A pequena defesa


Começamos o dia como todos os outros anteriores: chegada dos alunos, separa o caderno e copinho, pega um brinquedo e, claro, hora do xixi.
Entretanto, Bia, uma criança que nos outros dias estava falante, olhou pra mim e começou a chorar. Perguntei o que houve e respondeu que queria a sua mãe. Agachei-me ao lado dela, dei um abraço e expliquei que passaríamos a manhã juntas, mas após o almoço a mãe a buscaria. Aparentemente mais calma, a professora Luciana questionou o que estava acontecendo e indagou:
            - Que feio, Bia. Que feio! Ninguém gosta de criança chorona. Ninguém gosta de criança manhosa.
Bia começou a chorar novamente. E a professora continuou:
            - Pode parar de chorar, Bia. Você não tem motivos.
Em seguida, Ana Júlia, sentada ao lado de Bia começou a brincar com a colega e Bia parou de chorar.
8h, hora do café. Todos sentaram e, como de costume a professora serviu o café. Entretanto, dessa vez a professora pediu que deixassem um lugar na ponta na mesa livre. Ao virar-me para o portão, vi que o Arthur estava chegando, então a professora o pegou e sentou-se junto a ele. Abraçou, beijou e tentou com que ele comesse sozinho.
Hoje no café não eram biscoitos, serviram pão de mel e até o Arthur comeu sozinho (e tudo!).
Dia de parque externo. Às 8h30 fomos pra lá, as crianças foram correndo, entretanto, Arthur ficou extremamente agitado e não queria entrar no parque, se jogou no chão e chorou. A professora o pegou no colo e, juntos, entraram no parquinho.
As professoras, sentadas em seus banquinhos, interagiam entre si e mexiam no celular. Todas as crianças brincavam entre si de forma livre e, eu fiquei com o Arthur brincando com as que se aproximavam.
A turma da Maternal B juntou-se a turma do Maternal A no parquinho e todos começaram a brincar juntos.
As crianças aproximaram-se de Arthur e, uma delas (do maternal B), disso:
            - Ele é doido. Não pode ficar perto.
Bia e Jéssica, da turma de Arthur, respondeu:
            - Não pode falar assim. Que feio. Ele não é doido. Ele é o nosso Tutu.
Foto tirada por Ana Paula S. Marques em 17/05/2018 – "Bia e Arthur - A pequena defesa"
Pediram que todas as outras crianças saíssem de perto do Arthur, porque ele não gostava que ficasse muito em cima e, as duas, Bia e Jéssica, continuaram interagindo e brincando com Arthur.
Ana Júlia e Samuel também se aproximaram. Arthur pegou nas mãos de Ana Júlia e ela toda contente comentou:
            - Olha, olha ele gosta de mim.
Às 9h10 fomos para a piscina de bolinhas. As crianças foram dividas em dois grupos: enquanto um grupo ficava na piscina de bolinhas, o outro brincava com os materiais reciclados aguardando a sua vez.
Às 9h30 as professoras reuniram todas as crianças para explicar uma nova brincadeira: Lencinho Branco. As crianças sentaram-se formando um circulo, com exceção de uma, que ficaria em pé e teria que colocar o lencinho atrás de outra criança, entretanto, ninguém poderia ver. O objetivo é que a criança que receba o lencinho corra atrás da criança em pé e, a criança em pé, sente em seu lugar.
As professoras mediaram a brincadeira até que todos entendessem o principal objetivo. Arthur ficou sentado da roda junto com os demais.
Voltamos pra sala, hora do xixi e almoço.
Ao voltarmos para sala, as crianças realizaram o Calendário e a professora distribuiu pecinhas de lego para que pudessem brincar.
Antes do horário final, hora do xixi e fim do dia.


Ana Paula Sapatini Marques

Comentários

  1. Ana, Artur esta se adaptando ao grupo?
    Vai passar a fazer parte do grupo?
    As professoras não lhe deram nenhuma informação?

    A defesa de Arthur pelas meninas foi bonita! Foi grande!

    Mas outra vez a necessidade de uma mediação oportuna por parte das professoras, se faz necessária. Como a professora parece superproteger Arthur, as meninas parecem estar aprendendo a fazer o mesmo. Elas parecem dizer: não se aproximem dele, nós estamos cuidando, "ele é nosso Tutu". Artur parece ser visto como um bebê - no sentido de alguém que deve ser superprotegido.

    Falo em "superproteção" porque você descreve uma postura de carinhos da professora e até de "pegar no colo" que não foi descrita em relação a nenhuma outra criança.

    Como poderíamos intervir? Ajudar as crianças (e até a professora) apresentando outras possibilidades de interação com Arthur?

    Levarei para a preceptoria algumas sugestões de leitura que poderemos iniciar juntas e que possam nos ajudar a pensar em Arthur e Alice (que está na sala de Nanci).

    Abr.
    Fátima






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