Gabi, a menina levada

E.P.G. Martins Pena
Professoras: Luciana e Andressa
Turma: Maternal A (Matutino)
Relatório referente ao dia 15/05/2018
Número de alunos matriculados: 21
Número de alunos presentes no dia: 18



Gabi, a menina levada

Hoje, 14/05, os alunos e eu fomos recepcionados pela Prof.ª Luciana e a auxiliar Andressa. Após os alunos se organizarem e escolherem os seus respectivos lugares, a Prof.ª Luciana apresentou uma música de Roberto Leal (no mês de junho, terão um tema de trabalho – Copartilhando e, a turma do Maternal A representará Portugal, dessa forma, a professora organizará uma atividade com base nas músicas de Roberto Leal).
As crianças ficaram empolgadas e começaram o dia com um sorriso estampado no rosto – com exceção de Sofia que, aparentemente, estava com muito soninho.
A escola está participando de um projeto da Prefeitura de Guarulhos que chama-se “Explanando os livros”. Toda sexta-feira os alunos levam um livro para casa e, na semana seguinte devolvem. Hoje, foi o dia da devolução.
As professoras verificaram a devolução, bem como o estado de cada livro. A partir da observação da conversa entre elas, percebi o descontentamento referente às condições em que os livros se encontravam após os empréstimos e, ao chegar à vez da Gabi, questionaram:
- Gabi, quando você leva o livro, não pode guardar assim (o livro estava aberto, aparentemente na página onde parou a leitura), não sei se foi você ou sua mãe. Precisa guardar do jeito que entregamos.
As professoras, entre elas, comentaram de forma que todas na sala pudessem ouvir:
            - Nossa que relaxo, como ter coragem de entregar o livro assim [mostra um livro que encontra-se rasgado].
E, após o comentário, pediram para que Gabi fosse até elas:
            - Gabi, que situação, que situação. Veja esse livro, foi esse o livro que você levou?
Gabi respondeu, em tom de voz baixa e com a cabeça pra baixo:
            - Não. Levei o livro da borboleta.
A professora não certa da resposta de Gabi, perguntou:
            - Esse [livro] você não conhece?
Gabi, mais uma vez respondeu:
            - Não.
Então, a professora respondeu:
            - Você não conhece esse livro porque a sua mãe não leu ainda. Você não levará outro livro enquanto não trouxer o da borboleta.
Gabi voltou ao seu lugar e lá continuou brincando quietinha com o seu brinquedo.
Antes do café, as professoras chamaram aluno por aluno para irem ao banheiro e lavarem as mãos. Ao pedir que Carlos fosse ao banheiro, comentaram:
            - Carlos está nos surpreendendo, cada dia sentando em um lugar diferente.
Seguindo a ordem do xixi, pediram que Bia fosse ao banheiro, a mesma comentou que já havia feito xixi, então a professora questionou:
            - Que horas você foi sendo que não mandei ainda?!
Bia respondeu que foi enquanto ela comentava sobre Carlos. A professora sorriu e disse que ela realmente tinha razão.
Às 8h, pontualmente, todos estavam prontos para o café. Os alunos ficaram sentados e as professoras serviram o respectivo café na mesa para cada um, respeitando àqueles que não queriam.
Após o café, às 8h20, voltamos para sala e a professora pediu que os alunos sentassem no chão e explicou que aquele momento seria para a contação de uma história – O segredo da Joaninha (peço desculpas, pois não me atentei ao nome do autor).
Antes de começar a contação, a professora investigou a capa do livro com os alunos e, através do título, propôs um levantamento de hipóteses sobre qual a opinião de cada um sobre o segredo da Joaninha.
Ao término da leitura, concluiu dizendo sobre o respeito aos coleguinhas, respeitos as diferenças e o quanto era importante a colaboração de todos.
Todos demonstraram atenção e entusiasmo à história, com exceção de Sofia que, ainda parecia cansada.
Hora do parquinho!  As expressões de felicidade estavam estampadas no rosto de cada um. Fomos para um dos parquinhos externo, conhecido como “Casa da Moranguinho”.
As professoras, Luciana e Andressa, levaram suas cadeiras e lá as crianças brincavam entre si sem que houvesse mediação por parte das professoras.
As brincadeiras eram de correr e nos brinquedos (escorregador, balança e casinha) disponíveis no parquinho. Brincavam entre os colegas e, quando cansavam, brincavam sozinhos.
As brincadeiras entre os colegas eram brincadeiras de pega-pega e um auxiliando o outro no brinquedo, por exemplo, empurrando na balança.
Ao voltarmos para a sala, as professoras realizaram a atividade do Calendário. Cada criança recebe o seu calendário, conforme exemplo abaixo:

DOMINGO
SEGUNDA
TERÇA
QUARTA
QUINTA
SEXTA
SÁBADO


1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
17
18
19
20
21
22
23
24
25
26
27
28
29
30
31



Na lousa, a professora Luciana registrou o mês e o ano, de forma que todos pudessem identificar e pintar no calendário. Passou aluno por aluno e, para àqueles que encontrassem de forma correta a data, entregava um giz para que pudesse pintar. Entretanto,
            - Gabi, você errou! Não encontrou o 1 magrinho e o 5 barrigudinho [circulando com o giz no calendário de Gabi a data que não encontrou].
Ao término do Calendário, as professoras organizaram o jogo de boliche. Realizaram duas rodadas: a primeira, meninos x meninas e, a segunda, a professora Luciana organizou dois grupos de forma aleatória.
Na primeira rodada, as meninas ganharam (vale destacar que haviam apenas 6 meninos e 12 meninas). Gabi comemorava a cada ponto realizado pelo seu time:
            - As meninas estão ganhando. As meninas estão ganhando.
A partir da comemoração de Gabi, a professora resolveu mesclar os times e realizar uma nova rodada.
Os times formados receberam os nomes de Azul e Amarelo.
Gabi estava no time Azul, o qual estava perdendo. Ao chegar a sua vez, Gabi jogou a bolinha muito forte, onde a professora questionou:
            - Isso tudo é desespero de perdedor? O time azul está ganhando. Amarelo já perdeu.
Ao final da brincadeira, a professora enfatizou que o time de Gabi havia perdido e, quis me explicar o porque de tal atitude. “Há duas semanas atrás perdi uma brincadeira para Gabi e ela ficou debochando de mim. Quando ganhamos dela, não aceitou que ninguém falasse. Então fiz isso para que ela aprendesse a perder também”.
Hora do almoço! Mas antes, hora do xixi: mais vez, a professora chama um de cada vez e pede que faça xixi e lave as mãos.
Após o almoço, fomos ao segundo parquinho externo. As professoras com as suas respectivas cadeiras e todos brincando sem que houvesse mediação.
Voltamos para a sala, todos sentaram em seus respectivos lugares e a professora distribuiu massinha de modelar para que pudessem brincar.
Quase no fim do turno, Ana Júlia, ao levantar-se da mesa sem pedir a autorização da professora levou uma bronca. Abaixou a cabeça e “ameaçou” a chorar. A coleguinha ao lado, Bia, deu um beijo no seu rosto e as duas começaram a brincar.
Antes de finalizarmos o primeiro dia, a Diretora Alessandra quis conversar com os residentes. A mesma reforçou que o nosso papel na escola trata-se apenas de observação e explicou, também, que o tema anual chama-se “Cantando, brincando, fazendo e aprendendo" e, todos os meses há “subtemas”. Maio, se refere às Brincadeiras e junho, um projeto intitulado Copartilhando.


Ana Paula Sapatini Marques

Comentários

  1. Oi Ana,
    gostei muito de seu registro.

    Fiquei pensando na idade das crianças que estão no maternal: elas ainda não fizeram 4 anos, mas podemos constatar muitas possibilidades de desenvolvimento: elas falam, entendem, se explicam, brincam sozinhas e, aparentemente, aceitam e desempenham sem problemas tudo que é proposto pelas professoras, respondendo a propostas e ações que comumente caracterizam o universo de crianças maiores e das próprias professoras: o projeto sobre a copa (copartilhando) é um exemplo de como os pequenos são logo cedo inseridos e exigidos como se suas especificidades não contassem.

    Você também destaca a falta de uma mediação pedagógica menos escolarizadora e mais lúdica. Chamou minha atenção o teor mais disciplinador das interações, das intervenções das adultas junto as crianças, nas situações que você destaca. Espero que tenha sido um dia atípico e que isso não seja o que caracteriza o dia a dia das crianças.

    Gostei da ironia que compõe seu título: Gabi, a menina "levada". Gabi só é levada "na/pela" perspectiva das professoras, "nos/pelos" modos duros das professoras se dirigirem a ela: a bronca pelo livro, a bronca pela "torcida", pelo desejo de ganhar no jogo, pela ousadia de não querer perder.

    Fique atenta aos modos como Gabi e as professoras se relacionam, a como Gabi se relaciona com os/as colegas, talvez possamos aprender e até intervir, mudando os modos como Gabi é olhada/falada pelos adultos.

    Gostaria de saber mais sobre o projeto de leitura, por que se chama "explanação" de leitura? De saber se as professoras comentam as histórias que as crianças levam para casa, sobre como é feita a escolha dos livros, quando isso ocorre, como a escolha é conduzida, como as crianças participam e interagem em todo o processo. Se além de ver se os livros estão em bom estado, as professoras perguntam sobre as histórias, sobre com quem as crianças leram. Façam esse exercicio na proxima semana: se for possível, perguntem conversem com quem estiver por perto de vocês.

    Cenas como a que você relatou sobre Ana Júlia, que ao levantar-se da mesa, sem pedir a autorização da professora, levou uma bronca, abaixou a cabeça e “ameaçou” chorar... e foi acolhida pela coleguinha, Bia, que a beijou no rosto e ... as duas começaram a brincar, é muito, muito boa de se ver. Nos mostram como as crianças resistem e se defendem dessa "dureza" que as vezes caracteriza o comportamento das professoras. Fique atenta (FIQUEM ATENTOS) a isso. Como, quando, de que forma as crianças resistem? São movimentos pequenos, sutis... mas eles existem.

    Não entendi porque a professora chamou a atenção para o caráter de observação das atividades de vocês. Algum problema? Lembrem que a observação é participante, mas é observação.

    Abraço.
    Fátima




    Fiquei pensando em como, como professores/as, é importante ampliar nossos horizontes para poder ampliar os das crianças. Quando eu era criança, nos primeiros anos de escola, já eram as músicas de Roberto Leal o que representava Portugal. Nos últimos 50 anos foram tantas mudanças, tanta coisa aprendemos sobre Portugal e essa referencia continua a mesma, que por sua vez é mais "adulta" que qualquer outra coisa.

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