O início da sexta-feira (18/05/2018) não fugiu da rotina, copo ao lado do filtro, agenda na mesa da professora, verificação das agendas, e as crianças sentadas. Nesse dia, pude conhecer melhor Alice, a criança autista da sala de aula, que possui laudo médico de comprovação desde final do ano passado, como fiquei metade do tempo fora da sala no dia anterior, não consegui nenhuma interação com a menina, porém na sexta feira dediquei boa parte do tempo para conhecê-la melhor. Alice fala apenas algumas palavras soltas, atende quando ouve seu nome, gosta muito de se olhar no espelho, e brincar no escorregador.
Antes do café realizaram a atividade do calendário, onde a professora escreve o número do dia em que se encontra e as crianças devem achar numa folha de sulfite com o mês de maio impresso, quase todas as crianças conseguem achar no primeiro momento o número em questão, algumas demoram um pouco mais, então a professora media a situação e às vezes mostra onde está o número para criança. Em seguida, houve o momento da leitura, o livro contava a história de um elefante e seus amigos animais que um dia resolveram andar numa teia de aranha, mas pelo fato da teia ser muito fininha, não conseguiu aguentar o peso dos animais, assim todo acabavam caindo no chão. Nesse momento, chamei Alice para sentar próximo a mim, durante alguns instantes ela prestava atenção, mas em seguida seu olhar vagava para o longe, como se procurasse alguma coisa, durante todo o tempo a história, essas ações se repetiam.
Após a leitura, as professoras começaram a cantar músicas infantis que as crianças pediam, o que mais me chama atenção é o fato de as crianças não poderem se levantar no momento da cantoria, elas devem permanecer nos seus lugares, mesmo as canções exigindo alguns movimentos corporais, como o de costume nas músicas infantis, mesmo dessa forma, os pequeninos cantam com toda vontade empolgação. Alice dançava em todas as musicas, em pé, sentada, e também deitada no chão.
Depois do café, as crianças foram para o espaço do parque externo brincarem de "Corre Cotia", as crianças não conheciam a brincadeira e não sabiam cantar a música, mas conseguiram rapidamente compreender as regras, e a parte mais alegre era quando o colega tinha que correr para não ser pego, as gargalhadas corriam soltas, Alice também interagia a todo instante, e o sorriso lhe saltou quando chegou a sua vez de correr pelo círculo de colegas.
Finalizada a brincadeira, as crianças se dirigiram para o espaço da "casa da Moranguinho", a casa na verdade, é a antiga caixa d'água da escola, segundo as professoras, após a construção do reservatório fixo de cimento, a caixa ficou sem utilidade e seria destruída, até que uma das professora que compunha o corpo docente na época teve a ideia de transformá-la num brinquedo para as crianças, a escola contratou uma artista da região para fazer alguns furos simulando portas e janelas e pintou a casa na parte externa como a casa do famoso desenho animado da Moranguinho. As crianças adoram esse espaço e todas ficaram surpresas quando eu entrei na casa, e ouvi reações como: "Nossa, a professora cabe na casa da Moranguinho! Que legal!", fiquei alguns minutos brincando com as crianças, e saí para observar o outro grupo que brincava nos balanços.
Até que em determinado momento, um caminhão de material para construção parou em frente a escola e começou a descarregar areia e pedra numa casa vizinha, aos poucos as crianças se aproximaram da grade da escola e começaram a conversar com o funcionário, perguntando o que eles estava fazendo, para que era aquelas pedras, se ele iria construir um prédio, as crianças ficaram tão envolvidas e entretidas com a conversa, que em determinado momento todas elas largaram os brinquedos e foram observar o que aquele homem estava fazendo, até o instante que o caminhão foi embora.
Após o almoço, chegou a hora de escolher o livro da semana para levarem para a casa, as professoras espalharam os livros pelo chão, e foi chamando as crianças para escolherem o que queria levar e guardar em suas pastas. A professora reforçou que as crianças não podem riscar os livros, nem rasgá-los por que outras crianças irão usar, e também relembrou as crianças de pedirem para os pais lerem a história dos livros escolhidos, pois a leitura é algo muito importante.
Chama a minha atenção a forma como as professoras conduzem a atividade do calendário.
ResponderExcluirComo o calendário - essa ferramente construida por nós para registrar e contar o tempo - será compreendida pelas crianças? Se elas só se encontram com uma folha separada do restante do calendário, o que será que entendem do que estão fazendo?
Fico sempre curiosa.
Vocês já pensaram em outras possibilidades de apresentação de noções de tempo e do calendário para as crianças na educação infantil? E como será possível fazer isso com crianças tão pequenas? vale pesquisarmos.
Bacana que as crianças identificam os numerais. Isso nos diz de como são capazes e estão sempre ávidas por aprender tudo que é oferecido: a folha para pintar, a brincadeira nova, a conversa com o homem da construção... tudo elas querem ver, fazer, experimentar... é possível fazer muita coisa e é uma pena que em todos os momentos essa energia toda não possa ser aproveitada, como na hora de cantar.
Sobre Alice, um comentário: ultimamante nas escolas de Educação Infantil, temos cada vez mais referencia a existência do diagnóstico de autismo. Se por um lado é importante que a família e a escola possam saber o que a criança tem para poder intervir de foma mais consistente, por outro lado, às vezes isso fomenta preconceitos e, principalmente, estigmatiza a criança, pois todas as expectativas adultas sobre o autismo podem ser atribuidas a ela, mesmo quando o que se espera não ocorra.
Alice parece muito bem e não tão diferente das outras crianças: brincando, cantando e dançando: nesse caso faz o que acho que todas as outras devem sentir vontade de fazer e não podem!
Vamos observar e conversar nas próximas semanas sobre como Alice interage com o grupo e como as professoras interagem com ela.
Abr.
Fátima