Um longo dia


Em virtude a greve dos caminhoneiros e, paralisações dos transportes escolares, somente 6 crianças foram à escola na sexta-feira, dia 25/05/2018.
Conforme elas foram chegando, conversei com cada uma, desejando bom dia e perguntando se estavam bem.
Carlos sentou-se sozinho em uma mesa, enquanto as outras 5 estavam juntas. Então me aproximei de Carlos e perguntei se poderia sentar com ele. Ele perguntou se eu gostaria de brincar de carrinho. Brincamos um pouco até que a professora Luciana perguntou se ele não gostaria de sentar-se junto aos outros amigos – pude perceber sua felicidade em juntar-se com as outras crianças. Levamos o carrinho e, juntos brincamos com as demais crianças.
As professoras precisaram se ausentar da sala e, pediram que ficasse com as crianças. Aproveitei esse tempo e, para que todos despertassem, sugeri que fizéssemos alguns alongamentos. As crianças adoraram àqueles exercícios (esticar os bracinhos para tentar alcançar a lua, segurar uma perninha e apoiar-se na outra – e depois inverte etc.).
Hora do café e, logo em seguida Casa da Moranguinho (anexo, um “layout” da EJG Martins Pena para nos localizarmos melhor nas referências dos espaços da escola).
As crianças do Maternal B juntaram-se a nós na Casa da Moranguinho. Thais e eu nos unimos e brincamos de “Qual é o bicho” com as crianças. A brincadeira era o seguinte: perguntávamos para uma criança qual animal ela conhecia e sabia imitar, as demais tinham que adivinhar. Quem acertasse primeiro, imitaria o próximo animal. Ufa, cansamos da brincadeira.
Pedro, do Maternal B, pediu que empurrássemos (Thais e eu) ele na balança. Entretanto, ao invés de empurrá-lo, ensinamos a se balançar sozinho:
            - Pedro, quando a balança vier pra frente, você estica as perninhas, quando ela voltar, você dobra.
EBA! Ele conseguiu e está se balançando sozinho.
            - Veja Pedro, você sabe. Você conseguiu. Parabéns.
Entre uma conversa e outra, uma professora diz a outra:
            - Ontem na brincadeira, fiquei com o grupo de “sequelados” e a Andressa com o grupo nos espertinho. Enquanto o grupo da Andressa já havia terminado a brincadeira, o meu grupo parecia estar dormindo.
Foco nas brincadeiras com as crianças. Carlos vem correndo e pede:
            - Professora, vamos brincar.
Pergunto ao Carlos do que ele gostaria de brincar e, prontamente responde:
            - De Lobo Mau.
            - Então eu serei o Lobo Mau e pegarei todos vocês – respondi.
Brincamos, invertemos os papéis e o nosso horário no parque se esgotou.
Antes de voltarmos para a sala, as professoras e eu buscamos os brinquedos que ficam no refeitório (geladeira, fogões e salão de beleza).
Em cada canta da sala montamos um ambiente e, juntas as crianças brincaram. Sentei-me com cada grupo de criança e brinquei também.
Hora do almoço e, por último parque externo.
A quadra estava aberta, então, as crianças e eu fomos “jogar bola”.
            - O que vocês acham se fizermos um círculo e cada um chutar a bola para outra criança?
Todos concordaram, entretanto, cinco minutos depois um estava correndo atrás do outro tentando pegar a bola. Percebi, então, que dessa forma eles estavam se divertindo e deixei.
Outras turmas se juntaram no parque externo e, haviam no total 9 professoras.
            - Sabemos que quando vocês chegam na faculdade, falam mal da gente, que somos doidas, maltratamos as crianças. Mas fique tranquila, 80%, 80% não, 90% das teorias que vocês estudam não se aplicam na prática.
            - Quando diz estágio, também pensava que a professora era doida e, aqui estou eu, fazendo igualzinho.
Enfim, vários comentários nesse sentido. Na hora, fiquei muito constrangida e não consegui explicar que o nosso principal objetivo era aprender com elas na prática. Não somos e não temos a competência de avaliadores. Mas tudo bem, ignorei e sai de perto. Continuei a brincar com as crianças...


ANEXO - Layout EPG Martins Pena



Ana Paula Sapatini Marques

Comentários

  1. Oi Ana!
    Que pena que elas pensam assim e perdem a oportunidade de conversar, ensinar e aprender com vocês!

    Bacana o layout da escola! temos uma "designer" no grupo!

    Suas postagens, as duas, enfatizam o que comentei sobre o relatado por Vinicius e Thaís quanto as formas de controle, modos de participação das crianças e professoras. Não deixe de ler.

    Mas seus registros introduzem um dado novo: a oferta de uma atividade com fins avaliadores e a definição das crianças que não conseguem o desempenho esperado como "sequelados" - que palavra!

    A atividade parece uma brincadeira, um jogo, mas tensiona as crianças - elas sabem que estão fazendo algo que é diferente do brincar, ficam com medo de errar e se errar não vai ser o " dono" da forma - !

    Você observa muito bem, quando fala da necessidade de uma maior orientação prévia, principalmente quando um jogo novo é introduzido, para que as crianças possam compreender o jogo. Principalmente se a intenção é avaliar as crianças, não "vale", avaliá-las pelo que desconhecem.

    Você proporia o uso do tapete de formas geométricas com esse objetivo?
    Se sim, por que? Se não, por que?
    Como conduziria a atividade?

    Eu vejo mais uma vez as discrepâncias que podem definir as interações adulto-criança.
    As vezes os adultos, com a intenção de cuidar-educar-ensinar , não conseguem perceber como a relação que estabelecem com as crianças é autoritária/poderosa e, as crianças, não têm muito espaço ou poder para subverter a ordem imposta, não é? Elas têm que aguentar firma, gostando ou não e, ainda pior, podem achar que aquela é a única forma de relação com os adultos na escola (!), vão aprendendo a submeter-se, até para agradar esses adultos.

    Outra coisa para atentarmos é que, muitas vezes, sob o "manto" do jogo, estão situações com objetivos de ensino que acabam por constranger e afastar as crianças da relação com objetos, histórias, conteúdos etc com os quais poderiam conviver sem os "pesos" de acertar - errar/ ganhar - perder etc.

    A imersão, por outro lado, permite que as crianças convivam com outras possibilidades de relação. No convívio com vocês, elas interagem com adultos que podem também acolher, brincar, conversar, lavar o rosto molhado de lágrimas, escutar e responder aos anseios e, assim, até o lobo mau pode entrar e brincar, num "pega pega" gostoso, que já faz de vocês professoras brincalhonas que querem "pegar" as crianças, que querem ser "pegas" pelas professoras: uma beleza!

    Sobre o termo sequelado, citado por você nas duas situações registradas, não sei de onde ou porque ele pode ter surgido na escola. É novo no repertório que conheço de definições que estigmatizam as crianças na escola.

    O termo é usado no campo da saúde para falar de alteração anatômica ou funcional causada por uma doença ou um acidente. Não é referido a nada congênito, ou seja, a algo que seja característico do indivíduo desde o ou antes de seu nascimento. Então se há sequela, há uma causa. Será que elas se perguntam, ao pensar que há sequelas, o que causaria as sequelas que dizem existir? O que será que faz as crianças não conseguirem responder, jogar como elas querem?





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