Terra à vista!


Começamos o dia com festa: bolo, guaraná e viva ao Pedro!
Pedro, apesar de fazer aniversário em janeiro, pediu para comemorar na escola. Entretanto, por janeiro ser mês de férias escolares, conseguiu comemorar somente em junho. A comemoração foi uma delícia, as crianças puderam cantar parabéns, se deliciar com o bolo e guaraná.
Vinícius (residente no Maternal E) e eu havíamos combinado de iniciarmos a aplicação do PAP juntos, entretanto, em virtude a festinha de Pedro, combinamos que no primeiro dia de aplicação cada um ficaria com a sua respectiva sala.
A professora Luciana explicou às crianças que faríamos uma atividade diferente, uma atividade em que eu conduziria. No primeiro momento, expliquei que, por meio da imaginação, faríamos uma viagem, uma viagem a Portugal. Perguntei qual o meio de transporte chegaríamos a Portugal e as crianças responderam os mais diversos transportes: avião, carro, trem, ônibus, barco etc.
- O que vocês acham de viajarmos de avião? E depois pegamos um barco.
As crianças ficaram felizes e, da nossa sala até a sala do maternal E fomos de avião – Vinícius e eu trocamos de sala, uma vez que o projetor já estava montado em sua sala – estamos no meio da viagem e antes de continuar, vamos conhecer três amiguinhos: Maria, João e o Galinho. Eles nos acompanharam e orientaram em todo o percurso.
Hora de entrarmos no barco e, ao chegarmos em Portugal todos nós falaremos bem alto: “Terra à vista! ”.
- Como que o barco faz? Quem será o capitão?
Bia, no percurso da viagem perguntou se poderia acompanhar Maria. Samuel escolheu o Galinho e Carlos o João.
Chegamos em Portugal e, conforme havíamos combinado:
- Terra à vista!
A primeira visita em Portugal trata-se de um lugar muito especial: a casa de Fernando Pessoa. Visitamos sua sala, seu quarto e a biblioteca. Perguntei as crianças se gostariam de conhecer uma história/poema de Fernando Pessoa. Elas aceitaram e, todas sentadas no chão e de frente ao projetor com a imagem da biblioteca, desfrutamos do poema “Havia um menino”.


HAVIA UM MENINO

Havia um menino
que tinha um chapéu
para pôr na cabeça
por causa do sol.

Em vez de um gatinho
tinha um caracol.
Tinha o caracol
dentro de um chapéu;
fazia-lhe cócegas
no alto da cabeça.

Por isso ele andava
depressa, depressa
p’ra ver se chegava
a casa e tirava
o tal caracol
do chapéu, saindo
de lá e caindo
o tal caracol.

Mas era, afinal,
impossível tal,
nem fazia mal
nem vê-lo, nem tê-lo:
porque o caracol
era do cabelo.


- O que vocês fariam se houvesse um caracol no chapéu que estão usando? – perguntei a todos.
- Mas professora, não era caracol, era só o cabelo. – Respondeu Samuel.
- Isso mesmo Samuel. Mas e se tivesse um caracol, como você o tiraria sem deixar cair o chapéu?
Ao término do poema, hora de conhecermos um lugar muito legal, mas antes é preciso saber quem sabe nadar. Algumas crianças contaram como aprenderam a nadar, outras que só nadavam com o papai e com a mamãe.
A ideia inicial tratava-se em reproduzir um vídeo por dentro do Oceanário de Lisboa, entretanto, o vídeo estava corrompido. A coordenadora Fátima estava na sala e, rapidamente foi salvar o vídeo novamente no pen drive. Não podíamos parar a nossa história, era preciso continuar de alguma forma. Foi então que, rapidamente, pausei o vídeo em uma tela onde mostrava todos os peixinhos e tubarão, então:
- Venham crianças, vamos nadar. – sugeri.
- Professora pegarei um peixinho, olha olha. – disse o Lucas.
Todos nós começamos a nadar. Mas dessa vez Bia seria o tubarão.
- Corram, corram, o tubarão.
Revezamos quem seria o tubarão, nadamos e pegamos os peixinhos – tudo na imaginação e na sala de aula (ah! Que doce imaginação).
Pronto. Hora de continuarmos a visita. Em Portugal há um lugar que não podemos deixar de conhecer: a Torre de Belém.
Maria, João e o Galinho tem uma brincadeira para nos ensinar. Chama-se “Cabra cega”. Em frente a Torre de Belém, sentamos em um círculo. Uma criança de olhos vendados precisa adivinhar que é a outra apenas tocando em seu rosto, sentindo o seu cabelo e sem a ajuda de outros amiguinhos.
É a vez da Duda adivinhar, a acompanho até um colega, entretanto, ela com muita dificuldade não consegue acertar. A Professora Luciana resolve ajudar e dá uma dica:
- É uma criança muito bagunceira, Duda.
- Samuel! – Duda responde rapidamente após a dica da professora.
É a vez do Carlos, entretanto, o mesmo recusa-se a participar. Pensei: “tudo bem, ele pode não querer participar”. Porém, a professora Luciana o chamou e disse que ele participaria sim da brincadeira, assim como todas as crianças. Ele chorou e novamente se negou. A professora vendou os olhos e disse que eu estaria ao lado dele. O levamos próximo a uma outra criança para que pudesse adivinhar. Peguei na mão de Carlos e sussurrei que estava ao seu lado, não precisava ter medo. Carlos pegou no rosto do(a) colega, passou a mão no cabelo e respondeu:
- É a Bia.
Carlos acertou, realmente era a Bia.
Perguntei se Carlos havia ficado com medo e o mesmo respondeu que não e que havia gostado da brincadeira.
Conseguimos finalizar a brincadeira, porém já estávamos atrasados para o almoço, então não conseguimos voltar ao Brasil com o nosso barquinho e depois avião.
Quase no fim da manhã conversei com a professora Luciana, a mesma explicou que Carlos sempre se recusa a participar de novas brincadeiras e que ele é um menino muito sistemático. Entretanto, ela não achava certo ele não experimentar novas brincadeiras e/ou atividades.
Confesso que diante a atitude da professora não conseguia pensar dessa forma e, por esta razão segurei o tempo todo a mão de Carlos e disse que estava ao seu lado.
No fim, fiquei feliz que todos puderam brincar e se divertiram com o primeiro dia de nossa viagem.

Ana Paula Sapatini Marques

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